O Morro dos Ventos Uivantes

Brontë, Emily. 1818-1848 - O Morro dos Ventos Uivantes = Wuthering Heights

O Morro dos Ventos Uivantes mostrou-se, para mim, um abismo de desespero. A cada página eu era sugada pelos tormentos dos personagens, e me vi assim, até o final. 


Nunca acreditei no romance perfeito. O ser humano, por si só, carrega defeitos aos montes. A nossa raça é egoísta, invejosa e por vezes, cruel. Entretanto, somos criados para viver em sociedade, logo, aprendemos a nos controlar e a ser mais "amigáveis", por assim dizer. Dito isso, imagine um ambiente, no qual os defeitos citados acima, são constantemente estimulados. Pois bem, essa foi a infância e adolescência de Heathcliff, o personagem principal da obra de Brontë. O contexto é o seguinte: Mr. Earnshaw, proprietário da casa no morro dos ventos uivantes, e pai de duas crianças, Hindley e Catherine, volta de uma viagem com um menino de rua, mais tarde, batizado de Heathcliff. O garoto, órfão, torna-se o preferido do benfeitor, e é, então, decretado inimigo por Hindley. Pois, o mesmo, não suporta ver-se menos importante que alguém. Catherine, compartilhava do sentimento do irmão no começo, mas logo cedeu e tomou o lugar de melhor amiga do novo membro da família.

Hindley e o Heathcliff desentendiam-se o tempo topo. E o jovem órfão, até então tímido, tornou-se dono de um gênio forte e de um comportamento mimado. As brigas constantes levaram o Mr. Earnshaw a colocar seu filho biológico em um colégio. Os anos se passaram, e o então chefe da família faleceu, trazendo seu primogênito de volta para casa, que agora era um jovem casado. Assim o tempo passou, Hindley para se vingar, negou ao antigo inimigo o direito de estudar. Além de torná-lo vítima de violências frequentes. Dessa forma, o garoto que chegou inocente naquela casa, acabou por encher-se de ódio. Seu desejo de vingança crescia a cada dia, assim como seu amor por Catherine.

A história se desenvolve através das narrativas de Nelly Dean, a empregada da família. Ela conta com detalhes, todos os acontecimentos que levaram ao presente. O mais interessante de toda a trama, é a mudança de sentimentos que ela lhe causa. O carinho inicial é transformado em ódio, depois pena, depois amor, depois mais ódio e assim continua, mesmo quando o livro já acabou e você ainda está pensando sobre ele. A análise da história não pode ser, de maneira alguma, superficial! Todo o contexto deve ser levado em conta e por mais difícil que seja, nós temos que, obrigatoriamente, nos colocar no lugar de Heathcliff.



Entretanto, fazer isso não o isenta de seus pecados. Porém, se levarmos em consideração que nós fomos criados para conseguir lidar com nossos demônios interiores, e ele não, talvez possamos sentir pena do personagem. Tarefa difícil essa, principalmente para aqueles que acreditaram na rendição através do amor que ele carregava. Aliás, o que posso dizer sobre o nobre sentimento que foi tão massacrado nas páginas desse clássico? Em determinados momentos eu via a inocência de dois jovens, em outros, obsessão. Em alguns capítulos, eu jurava que aquilo existia, mas em outros, eu não suportava a ideia de que o amor pudesse ferir tanto. E assim eu fiquei, determinada a acreditar desacreditando na versão de romance da célebre autora. Não porque era uma ficção, e sim porque aquelas linhas pareceram tão reais que me deixaram atônita.

Um comentário: